top of page

O olhar da anciã

  • Foto do escritor: Paladino do Fogo
    Paladino do Fogo
  • 24 de set. de 2019
  • 2 min de leitura

Atualizado: 24 de set. de 2019



Já havia algum tempo sem nada produzir. Pensou estar diante uma crise, dessas em que a imaginação abandona e não diz para onde vai. Como um artista supera a ausência de sua companheira?


Um dia, de forma despretensiosa, foi até a parte antiga da vila onde vivia uma anciã. Disseram-lhe que ela era capaz de revelar o passado e o futuro de qualquer pessoa. Mas e sua inspiração? Será que revelaria o caminho para encontra-la?


Entrou na casa de taipa incomodado com a fumaça. Ela fumava um enorme charuto. Na pele, as marcas do tempo e da sabedoria. Com a cabeça baixa, deu mais uma tragada, segurou-lhe as mãos e disse:

- Não estás abandonado. Assim como algumas aves precisam sair de suas casas para gerar vida nova, a chama de sua criatividade precisa de lenha para queimar. Arruma teu alforje e ganha mundo. Alimenta teu espírito, meu jovem.


Ele agradeceu o conselho e seguiu rumo à saída quando ouviu:

- Volte aqui.

Ele voltou, e desta vez percebeu que ela o olhava fixamente, se aproximando. Puxou-o para baixo até ficarem face a face.

- O que vê, meu jovem?


Vejo a anciã! Respondeu.


- Não seu tolo, o que vê dentro dos meus olhos???


Pararam por alguns segundos, em silêncio. Então, ela disse:


- Eu vejo a força de Isis e Quenúbis. Temo que só quando conseguir enxergar o que há dentro dos meus olhos, descobrirá onde está sua brasa. Mas também creio em ti. Agora vai...


Saiu desconcertado, pensando nas palavras da velha anciã. Arrumou o alforje, foi abençoado pelos pais e seguiu rumo ao leste.


Algumas horas depois, sob a luz da lua, acomodou-se para descansar. Enquanto isso, pensava: O que havia dentro dos olhos da anciã?


Ficou assim por horas, lembrando fixamente daquele olhar e buscando algo que lhe trouxesse a resposta. Em sua mente, ia aproximando e examinando seus olhos.


Como acharei minha brasa aqui? Pensava...


Concentrado, olhou com mais precisão. Havia um reflexo nos olhos da anciã. O que seria? Estaria naquele reflexo a sua jornada?


De repente, saltou num rompante, sorriu e gritou. Gritou de alegria!


Que tolo eu fui! Falou.


O que havia dentro dos olhos da anciã nada mais era que minha imagem refletida.


E seguiu, em busca de sua aventura, sabendo que tudo que precisava estava dentro de si!


 
 
 

Posts recentes

Ver tudo
A TERCEIRA LENTE

Aos olhos do poeta com clareza revelam-se as florências pequeninas. Latentes lá no pólen, opalinas ao vento que passeia em sutileza. E vê...

 
 
 

Comentários


bottom of page